terça-feira, 4 de agosto de 2009

Só a viúva salva.

A notícia de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, aportaria dinheiro para a construção e reforma de estádios para a Copa do Mundo 2014 causou grande alvoroço, especialmente no caso da sede paulista do evento.

Quando do anúncio da escolha dos locais para a o Mundial, o Morumbi foi escolhido sob duas premissas.

Primeira, o estádio já atenderia "praticamente tudo o que a FIFA exigia".

Segunda, as adaptações e reformas seriam feitas sem recursos públicos.

Ficariam apenas ao Governo outras obras de infraestrutura e preparação para a Copa, como avenidas, aeroportos, Metrô etc.

A Administração estadual - que não acreditou muito na palavra são-paulina - preferiu calar-se, enquanto a esfera municipal festejou que tudo seria feito sem dinheiro público e nenhum outro esforço seria necessário para o Morumbi sediar a abertura do Campeonato Mundial de Futebol de 2014.

Não foram poucos os que alertaram quanto ao erro cometido na escolha do Morumbi: as reformas seriam grandes, e mesmo assim insatisfatórias, o São Paulo não teria os recursos necessários e a capital paulistana correria o risco de não ser o local de abertura da competição.

No entanto, somente com a chegada dos técnicos da FIFA, as coisas ficaram claras. O relatório da entidade foi devastador.

O projeto inicial tricolor foi devolvido e tomou o rumo de algum arquivo no escritório Ohtake. As exigências da FIFA mostraram que as alterações no estádio serão difíceis, caras e trabalhosas e que a abertura em São Paulo corria sério risco de não se realizarem.

A partir daí, o São Paulo buscou apoios políticos para fazer o que não tinha feito até então: um real projeto de reforma e obtenção do dinheiro de que não dispunha.

A Administração estadual, que já desconfiava, sabe hoje que SPFC não conseguiu investidores privados para sua reforma e que o trabalho será imenso.

Os dirigentes do Município cobram do SPFC que esclareça a garantia dada, de que faria o trabalho com dinheiro privado e que atenderia às normas da FIFA para abrir a Copa do Mundo.

O Tricolor, bem, o Tricolor sabia desde o início que não conseguiria fazer a reforma sozinho e não teria investidores privados, e que, no fundo, seu objetivo é e será apenas que a Cidade não construa uma arena à altura para abrir a Copa do Mundo.

Esta história do BNDES é um capítulo que se insere apenas na tática são-paulina de "empurrar com a barriga" para que ninguém pense em outra alternativa.

O BNDES é um banco do Governo Federal, uma instituição de fomento cujo objetivo básico é impulsionar o crescimento do País. O banco financia com prazos de vencimento largos as atividades industriais, agrícolas, de fomento e de serviços.

O Banco possui um quadro profissional concursado e gabaritado, estudando e detalhando suas propostas, fazendo exigências rigorosas na concessão de empréstimos. Vez por outra, os governos "empurram goela abaixo" alguns tipos de negócios que, claramente a instituição não quer, concessão que só acaba fazendo após grande luta do seu corpo técnico.

Não há caso na sua história de financiamento para entidades sem fins lucrativos, como são os clubes de futebol. Como gosta de afirmar o Presidente Lula, desde Cabral nenhum clube recebeu recursos do BNDES.

Esta mudança implicaria em alterações de normas internas e, daqui para frente, viria a escancarar o banco a todo tipo de pedido de clubes e grupos do esporte, o que provocaria um claro desvirtuamento de sua finalidade.

No momento, a tática do São Paulo é continuar "empurrando com a barriga", dizendo que até dezembro encontrará empresas privadas para financiar a reforma. Embora não tenha nem projeto, nem grana, os tricolores admitem que precisarão de, pelo menos, R$300 milhões para as reformas internas da arena, não incluída a construção de garagem e de infraestrutura de acesso, que pretende que sejam executados pelo Estado e a Prefeitura.

Esta luta por manter o São Paulo como sede da Copa e impedir a construção de estádio alternativo já vem hoje produzindo ideias de que não seria importante a abertura ser feita em São Paulo e que a Cidade ficaria apenas com alguns jogos secundários.

Convenhamos que para o São Paulo não haveria problema, agora, para os dirigentes do Município, Kassab, Feldman e Caio, que deram aval a este imbróglio, o Morumbi não seria mais um campo de futebol, mas um cemitério político.

Por Antônio Roque Citadini - Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

Blog - http://blogdocitadini.blog.uol.com.br/

Seja o primeiro a comentar

  ©Template by Dicas Blogger.

TOPO