quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Gastador", Sanchez mina base corintiana, em baixa na sua gestão

Desde 2007, aproveitamento de jogadores da base do clube caiu pela metade.

Bruno Winckler, iG São Paulo 


Para a diretoria corintiana, o trabalho na base do clube está sendo bem feito. Mas a quantidade de jogadores forjados no Corinthians que são aproveitados no time profissional é cada vez menor, principalmente na gestão de Andrés Sanchez. O atual líder do Campeonato Brasileiro tem entre seus titulares apenas um jogador, o goleiro Júlio César, que iniciou sua trajetória clube.

Levantamento do iG mostra que, neste século, os jogadores do terrão, apelido da base do clube, nunca estiveram tão em baixa como nesta gestão. Sanchez assumiu o clube no final de 2007 e o rebaixamento da equipe no Campeonato Brasileiro, aliado à chegada de Mano Menezes, no início de 2008, diminuiu substancialmente a relevância de corintianos “de raiz” no time principal. O clube passou a contratar mais antes de apostar nos jogadores formados no clube.

Em 2007, 23 jogadores formados no clube figuraram entre os profissionais. Em 2008, o número caiu para 17. No ano seguinte, outra baixa. Apenas 15 jogadores da base foram aproveitados em 2009. No ano do centenário, foram apenas 12 e neste ano, até agora, 13. Ressalta-se que este número leva em consideração os jogadores que participam das atividades do elenco profissional no dia a dia de treinos, não só os que entram em campo nos jogos da equipe.

Para Fernando Alba, diretor das categorias de base do Corinthians, os frutos do trabalho que a atual gestão faz no clube ainda não serão colhidos. Ele aponta falhas nas outras administrações e o rebaixamento da equipe em 2007 como fatores que mudaram a política do clube de formador de talentos para contratador de jogadores de fora. “O que pegamos antes reflete na nossa gestão. O pão que colocamos no forno não vai sair do nada. Tem de esperar e de forma organizada, mais profissional, vamos colher os frutos”, disse Alba, na função há seis meses.

O diretor corintiano cita a chegada de Mano Menezes, no início de 2008, como um divisor de águas na cultura de aproveitamento da base no time principal. “Era preciso mudar, contratar para montar um time pronto e forte. Agora a base tem a função de evitar que aconteça o que aconteceu naquela vez. Num futuro próximo, não vamos precisar contratar 10, 12, 15 jogadores por ano porque a base vai formar”, disse.

“Só não pode esperar que ter sucesso é formar um Neymar a cada safra. Não é assim. Temos de mudar a cultura do clube, ter paciência, que com avanços na nossa estrutura, vamos revelar mais”, disse, citando o título mundial recentemento conquistado pela categoria sub 17 na Espanha. “Pelo menos nove jogadores desse time tem condição de subir”, relata. Tite tem mantido conversas com os técnicos dos times de base e do Corinthians B, que disputa a Copa Paulista.

A menina dos olhos do presidente

Em fim de mandato, o presidente Andrés Sanchez diz que a única função que aceitaria assumir no clube depois de deixar a presidência, em dezembro, seria a coordenação da base. Ele explica que por “problemas internos”, o clube não conseguiu aproveitar mais jogadores da base neste período. Segundo Sanchez, o cenário mudará quando as instalações que o clube está construindo ao lado do CT da equipe profissional no Parque Ecológico estiverem prontas.

“São problemas logísticos e internos. Mudamos a base por causa do estádio (jogadores saíram de Itaquera e foram para o Flamengo de Guarulhos, que tem parceria com o Corinthians). Este ano já começamos a ampliar o CT ao lado do profissional para abrigar o time junior, o juvenil e se tem um cargo que eu posso assumir depois de dezembro é de diretor de categorias de base”, disse Sanchez, em evento recente no Parque São Jorge, quando o clube lançou seu relatório de sustentabilidade de 2010.


“Base não é para vender, mas sim fortalecer seu time. Essa é a cultura corintiana, mas é um projeto que daqui três, quatro anos vai começar a render”, completa Sanchez.

O volante Bruno Octávio, alçado ao time principal do time em 2004 e hoje de volta ao Corinthians após passagens por Figueirense e Bahia, vê uma mudança de pensamento por parte da diretoria. Ele percebe que a base não tem a mesma importância de outros tempos.

“Mudou a filosofia do clube e você nota isso na estrutura. Ela é voltada mais realmente para títulos, não é nem formação. O clube ganha mais com marketing do que com base, do que formando jogadores. Antigamente era preciso ter recursos na base pra vender jogadores e hoje não precisa tanto. Não sei se estão olhando com tanto carinho assim para a base”, disse o volante, reintegrado ao elenco após recuperar-se de cirurgia no joelho direito. Ele ficou no banco em duas partidas deste Brasileiro.

Tite tem tido bastante cuidado antes de lançar jogadores. Apesar de 14 garotos estarem fazendo parte do time principal, treinando diariamente no CT do Parque Ecológico, o treinador lançou apenas um jogador nesta sua passagem pelo clube. Domingo, contra o Cruzeiro, Elias Oliveira, de 19 anos, foi o primeiro jogador da base do clube a estrear no time de cima neste ano. “Estou observando, mas não pode lançar um garoto na fogueira. Tem que trabalhar, dar confiança. O Elias jogou, tem o Claudir (atacante), mas não se pode fazer as coisas com pressa”, disse Tite, na terça-feira.

A atual política do clube é emprestar jovens promessas para que eles ganhem cancha sem a pressão do Corinthians. No Bahia, estão Dodô e Lulinha. Boquita, que estava lá, está na Portuguesa. O goleiro Rafael Santos foi para Avaí acompanhado do atacante Taubaté e o meia Fran foi para o Americana. Marcelinho, campeão da Copa São Paulo de 2009, está no Barueri.

Jogadores formados no clube, mas um pouco mais experientes, como Marcelo Oliveira e Éverton Ribeiro, retornaram ao time neste ano, mas não foram aproveitados. O primeiro foi emprestado novamente para o Atlético-PR e o segundo negociado em definitivo com o Coritiba. Dentinho foi o único jogador recente da base do clube que se manteve no time titular por mais de uma temporada e acabou rendendo bons dividendos ao clube.

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