A mulher no poder
Dilma, primeira mulher eleita presidente do Brasil, promete valorizar a democracia, erradicar a miséria e unir o País, dividido por uma campanha acirrada.
Cláudio Dantas Sequeira, Hugo Marques e Luiza Villaméa
Cláudio Dantas Sequeira, Hugo Marques e Luiza Villaméa
Exatamente às 20h14, do domingo 31, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowsky, condedeu uma pequena entrevista coletiva anunciando que já tinha o resultado das eleições presidenciais de 2010. A poucos quilômetros dali, em uma ampla casa no Lago Sul, uma das regiões mais nobres de Brasília, Dilma Rousseff e seus principais assessores acompanhavam atentamente a fala do presidente do TSE.
Mal Lewandowsky terminou de pronunciar a frase “oficialmente eleita”, Dilma bateu com as duas mãos sobre as pernas, levantou-se do sofá e disse: “Acabou!” As pessoas que dividiam com ela a ampla sala da casa que se tornou o quartel general da campanha não tiveram dúvidas de que Dilma falava muito mais para si mesma do que para os seus interlocutores.
Em poucos segundos um clima de euforia contida tomou conta do ambiente. Dilma foi abraçada de forma efusiva por Fernando Pimentel, pelo deputado federal Antônio Palocci, pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, e pelo secretário geral do partido, José Eduardo Cardozo, os três mosqueteiros que dividiram as últimas e apreensivas horas com a presidente eleita.
Primeiro discurso
l Sobre as mulheres: “Já registro aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras (...)A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um princípio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e as mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas e lhes dissessem: ‘Sim, a mulher pode!’”
l Sobre as liberdades: “Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social. Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa. Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto”
l Sobre a pobreza: “Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo”
l Sobre a economia: “Acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas”
Da mansão no Lago Sul, Dilma saiu diretamente para o Hotel Naoum, onde um batalhão de correligionários, lideranças partidárias e um pequeno exército de jornalistas brasileiros e estrangeiros a aguardava. Lá, em um discurso sem arroubos épicos, afirmativo e conciliador, Dilma reafirmou seu compromisso com a democracia e as liberdades individuais dos brasileiros. “Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa. Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da Presidência da República”. Durante o discurso, de exatos 25 minutos, Dilma Rousseff também procurou dissipar o clima beligerante que tomou conta de todo o segundo turno de uma das eleições mais agressivas do país desde o fim da Ditadura Militar, em 1985. “Aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nessa caminha, estendo minha mão. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio”, afirmou a presidente eleita, para logo em seguida deixar-se emocionar ao agradecer o presidente Luis Inácio Lula da Silva pelo apoio que lhe deu antes e durante toda a corrida eleitoral.
Ao fim do discurso, Dilma não ficou para a festa. Preferiu ir direto ao Palácio da Alvorada agradecer pessoalmente seu padrinho num encontro reservado e cheio de emoção. Assim que chegou à sua futura residência, Dilma recebeu um abraço apertado de Lula, um beijo no rosto e ouviu: “Parabéns! Você conseguiu! Você foi guerreira, merecedora da vitória”, afirmou o presidente, diante do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
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